As pessoas que eu leio escrevem sobre tecnologia, dietas, vida pessoal, moda, pessoas famosas, viagens, livros, filmes e outras coisas... Nenhuma ainda escreveu sobre isso, talvez porque envolva psiquiatria, remédios, psicoterapia, personalidade, crises, problemas...
Eu, há alguns anos, fui diagnosticada portadora do transtorno bipolar do humor, do tipo 1. Também conhecida como psicose maníaco-depressiva.
Consiste em:
- Períodos de mania (euforia) com humor elevado e expansivo, grave o suficiente para causar prejuízo no trabalho, relações sociais podendo necessitar de hospitalização contrapostos por períodos de humor deprimido, sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono, apetite, entre outros. Geralmente, o estado maníaco dura dias ou pelo menos uma semana, e períodos de depressão de semanas à meses.
Deve parecer assustador, poucos conseguiram lidar com isso, a maioria das pessoas que estavam próximas me deixaram, fiz mal a muita gente, errei demais, sofri com pessoas muito próximas (digo família), que não compreendiam e não aceitavam o quadro em que eu me encontrava.
Nisso acontecem os diagnósticos caseiros, aqueles que são basicamente:
-Frescura
-Falta do que fazer
-Falta de namorado
-Excesso de álcool
-Falta de juízo
-Falta de atenção
O meu caso, é um caso bem comum... De gente que precisa se afirmar, que precisa estar em algum ponto de destaque para se sentir mais importante do que realmente julga ser.
Chama a atenção de qualquer maneira, normalmente, seduzindo homens/mulheres para se auto-afirmar, para se sentir a pessoa mais irresistível do mundo.
Fala alto, dá detalhes de sua vida pessoal, e as vezes detalhes minuciosos de coisas que nunca aconteceram.
Depressão... Quer (e tenta), morrer, deixa empregos, come demais, ou não come mais, se sente a pior pessoa do mundo, exatamente o oposto do que tenta mostrar com mentiras e exposição desnecessária.
Gastos... Ah... Os gastos... Roupas, sapatos, livros, tudo o que dá prazer e que nunca vai usar, o que no fim gera problemas com SPC, Serasa, amigos, inimigos, familiares ...
Exagero no álcool...O que torna o indivíduo ridículo, o que lhe dá liberdade para fazer todas as idiotices para chamar a atenção, e sempre, sempre causa um problema maior do que o “original”
Internação...Ela pode acontecer e ser a pior lembrança da vida, e ser o que mais assusta, o que lhe dá medo de ter filhos, de manter uma vida conjugal e ver as pessoas que ama tendo que fazer visitas em hospitais psiquiátricos.
Abandono... As pessoas se afastam, não querem a pessoa-problema por perto.
Eu estava em tratamento, tomando meus remédios, living la vida... Mas, parei. Do nada, parei.
Tive racaídas, problemas e encontrei uma pessoa, uma pessoa que me deu muito amor, atenção, carinho, me trouxe para a vida e me trouxe novos sonhos, apesar de todos os problemas que vivemos.
Ele me deu forças para buscar um novo médico e um novo tratamento, ele me deu forças para encarar a responsabilidade de uma casa e forças para sonhar com uma família.
Iniciei um novo tratamento, com outro psiquiatra mas, sem medicamentos.Baseado em sessões com conversas, abrindo meu coração...
Tive um novo diagnóstico: Transtorno de personalidade Borderline.
Consiste em:
-O Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), também conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é definido como um transtorno de personalidade grave caracterizado por desregulação emocional, raciocínio “8 ou 80” (“branco e preto”, totalmente bom e totalmente mau) extremo ou cisão, e relações caóticas. Borderlines são extremamente impacientes, têm dificuldade em esperar, querem tudo na hora e não conseguem tolerar decepções e frustrações, além de ser muito difícil conseguirem concluir alguma tarefa persistente; tentam, enrolam, dão inúmeras voltas naquilo que deve ser feito mas não têm estabilidade, paciência e persistência o suficiente para levar adiante.As perturbações sofridas pelos portadores do TPL alcançam negativamente várias facetas psicosociais da vida, como as relações no trabalho, casa, e ambientes escolares. Tentativas de suicídio e suicídio consumado são possíveis resultados sem os devidos cuidados e terapia.
Opa, esta sou eu.
Durante esse tratamento, eu tive uma crise, chorei por horas seguidas... Precisei de medicamentos. Ainda os tomo.Infelizmente, ainda não me sinto estável. Estou melhor, mas não estável. Bom, quero –na verdade- falar sobre o TPB (Borderline), que é muito confundido com o TBH (Bipolar). E achei importante introduzir o assunto fazendo o mais difícil, me assumindo portadora de um transtorno, que quer ter uma vida normal, que quer casar, ter filhos, ser feliz... Fazer isso em público e para um público que não conheço é confuso... Mas, está feito.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Oi, Mariana. Há 7 anos trato para depressão maior (unipolar), tendo recaídas freqüentes, abandonando medicamentos e terapias, desistindo fácil de tudo. Há 4 anos estou com o mesmo terapeuta, entre idas e vindas frustrantes. Ele prescreve antidepressivos, calmantes, quando necessário, mas NUNCA havia me falado diretamente o diagnóstico que me "deu". Estava conversando com uma amiga, que estuda Medicina, e ela acha que sou bipolar. Resolvi, na sessão de hoje, então, questionar o terapeuta sobre meu REAL diagnóstico, porque, sendo bipolar e não tratada, fiquei com medo de que isso pudesse gerar algum tipo de lesão nos meus neurônios a cada vez que "surto", fico "possuída" e "atacada". Ele não queria falar o diagnóstico "assim, de uma vez só, no fim da sessão", mas eu pressionei. Bom, eu sou BORDERLINE tb, segundo ele. É muito difícil ser assim.. vc é, vc tb sabe. E vc sabe do medo que a gente sente. Eu queria muito manter contato ctg, se não se importar. É difícil falar disso com as pessoas, há um estigma. Uma vez, quando li a respeito e comentei com minha mãe que eu achava que poderia ser border, ela simplesmente ficou apavorada, pois tem uma familiar distante que é border, e "ela é uma louca, isso é gravíssimo, pelo amor de Deus, tu não tem isso, minha filha, não tem cura!". Pois é! E, hoje, anos mais tarde, eu pude confirmar aquilo de que eu já desconfiava! Se quiser, trocamos emails... Espero que vc esteja bem e viva! [vi que não postou mais]. Era isso. Meu email, abaixo:
pingosdepoesiablog@gmail.com
Oi, Bee...
Eu sei o quanto é difícil querer falar sovre isso e não ser compreendida, sei como é complicado olhar no espelho e ser a pessoa mais forte e mais frágil do mundo..
Claro que podemos trocar idéias e experiências, podemos nos ajudar bastante, afinal... Da nossa "loucura", entendemos nós.
Postar um comentário