domingo, 1 de junho de 2008
Texto de março de 2003
Você me olha de soslaio, eu não sei desviar olhares. Não conheço meias-medidas, minha casa não tem portas, tem cortinas, como um harém. Você não diz nada mas me observa faminto, seus olhos e seu corpo falam comigo. Sinto na pele seu desejo, arrepio e amoleço; como fruta no sol, fico cheirosa e tenra, peço pra ser mordida. Você sorri de leve, de leve me afaga como quem diz :"Espera. Vai ser como eu quiser" e eu espero, ah, eu espero. Você me toca e eu transbordo, quero só fechar os olhos e deixar coisas acontecerem dentro de mim, fico sensível a cada toque leve e sutil dos seus dedos, sua boca que se abre só de leve e promete um beijo e sua língua macia. Fecho os olhos e adivinho onde você vai me tocar, se sua boca vai se aproximar do meu pescoço (será que você vai me afagar ou me prender?) ou se meus seios vão se encostar mais no seu peito? Meu sexo parece o centro de mim, pulsa-pulsa. Quando você olha nos meus olhos e diz em silêncio "quieta", eu já sei. Me deixo estar, ficar, e você procura tranquilo um caminho até meus lábios mais escondidos, melados de tanto esperar. Tremo e não sei se olho ou se me dedico ao escuro dos meus olhos fechados, que vêem cores e imagens de corredores, de quadros numa galeria, de tetos espelhados e mosaicos enquanto você respira meu cheiro e subitamente mistura sua umidade com a minha, sinto escorregar sua língua e não sei se sou eu ou se é ela que deslizam, que brincam, não sei se me movo ou se suspiro e grito, sei que é um caleidoscópio sensorial, montanha-russa. Me confundo e não sei se quero mais ou menos, se gozo ou se desfruto mais, paro e continuo, me concentro e me distraio na sensação, rio e quero chorar, brinco de balanço. Sinto suas mãos, seu suor me fazendo escorregar, mais fluida que água, salgada e doce, sou enguia, peixe, menina com medo, tenho medo de tanta entrega, de ser sua pra sempre, se ser sua naquele instante e me perder de mim. Seus dedos brincam comigo como se eu fosse marionete, e eu estico fios, resisto, deixo, relaxo, fico tensa, sei-não-sei, quero mais e menos e quero sua boca, seu pau, seus braços, seus cabelos e olhos e sua voz no meu ouvido, um ponto cego, uma estrela, um carro, gotas, sons e pêlos e fogos de artifício e... torrentes. de prazer, de gozo, de grito, torneira aberta, cachoeira, canal de suez, mediterrâneo, rio, goteira, ping, ping, ping. pong. Me vê, pede, provoca, deseja, mete (por favor!) e me manda ficar quieta. Me segura, enfia os dedos na minha boca, lambuza meu rosto, puxa meus cabelos, me morde e me fode, muito, forte, pára e espera, faz o que quiser, não me ouça, não, sim, não-não-não, mais e (ah) mais, sim, mais, assim, por favor, por favor. Deixa eu me esfregar e me mexer, mas sorri pra mim e pergunta "o que foi, menina?" com esse ar doce e safado, enquanto se diverte me vendo desfalecer, sorrir boba e entregue como uma flor recém-colhida.
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