Acabo de perceber algo de infantil que tenho.
*Imagino ter zilhões de outras coisas infantis, mas essa me chamou a atenção*.
Resolvi buscar um copo de leite de soja, descendo as escadas, escorreguei e caí. Naquele instante eu olhei para os lados e não havia ninguém para me amaparar, para perguntar se doeu, para dizer "não foi nada. foi só o susto", nem mesmo para rir da queda... Me senti desprotegida.
Ali, no chão, senti vontade de chorar. Como é ruim cair e não ter um "adulto" (entenda-se adulto como alguém que é aparentemente mais forte e preparado do que a gente), para me proteger. Levantei e comecei a pular. Porque pular? Para ter certeza de que não quebrei nada e para não prestar atenção na dor.
Comecei a pensar na minha vida, na minha decisão de morar sozinha... Se me sinto sozinha em uma casa com minha família, como será sozinha -de fato? Senti medo. Será que sou capaz? E se eu cair?
Minhas pernas ainda esão doloridas, roxas e raladas... A dor me remete à cena na sala... Dói mais. Dói e eu não sei lidar com a dor, nem com feridas.
Tenho medo de ficar sozinha no mundo. Tenho medo de perder as pessoas, ou de perder o melhor delas. Nos últimos anos eu tive perdas irreparáveis, a vida me levou pessoas importantes, e o tempo me levou o melhor de outras pessoas. Como os que amo são pedaços de mim, me sinto menor... Não queria mais perder o que tenho, o que conquisto, mesmo sabendo que a vida é feita disso.
Acabo de pensar no meu tio... E as lágrimas vieram. Penso nele todos os dias, e só eu sei o quanto dói (em mim), viver sem ele. Associando a partida dele com minha queda, consigo colocar em uma linha a sensação de estar desprotegida, é isso que eu sinto sem ele. Me sinto sozinha, no chão.
Queria não ser tão egoísta e parar de desejar que ele não tivesse partido. Não consigo parar de desejar que o tempo volte e que ele esteja lá, em Caraguá, esperando nossas visitas.
Meu tio sempre foi o homem mais forte do mundo, o homem mais justo e querido, sinto muito a falta dele. Sinto falta da gargalhada escandalosa, do abraço apertado, das brincadeiras, da sinuca, das ligações no meu aniversário, dos natais... Dói.
Queria poder dormir e sonhar com ele, conversar e poder me sentir segura outra vez. Livre dos perigos, pois o meu super-herói estaria a meu lado... Lembro quando ele soube do meu diabetes. A primeira coisa que ele fez, foi me ligar e pedir para eu não ficar chateada, pois ele sabia o quanto é triste ter que se limitar. Me senti consolada, me senti abraçada por uma voz acolhedora.
Lembro do nosso último papo, já no hospital... Do último sorriso, do abraço... Queria meu tio de volta. Queria a paz que eu sentia ao lado dele, mesmo que por uma fração de segundo. Sei que não é possível. Mas, se eu pudesse pedir algo ao Papai Noel, seria apenas que ele fosse meu tio, que me deixasse deitar em seu colo e adormecer.
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